domingo, 20 de março de 2011

Finalmente, os meus patinhos






                Há pelo menos umas sete primaveras eu quero ter 22 anos. Difícil é ter uma explicação convincente pra este desejo.
                Acho que tudo começou quando eu tomei um tapinha da mãe de um amigo meu enquanto ela tentava me fazer prestar atenção no seu orgulho. - Olha, Gabriela! Meu filho, 22 anos, advogado. Pronto. Estava definido o período em que eu deveria ser alguma coisa na vida.
                Outro fator decisivo é que sou do tempo em que bloco sepeense tinha que ter site com guestbook. Funcionava mais ou menos como um muro de político em época de eleição, o, um mural de xingamentos só que on line. Vez-em-quando os mais civilizados postavam recados de parabéns aos aniversariantes que mencionavam os “dois patinhos na lagoa”. A referência infantil me comovia, talvez pelo fato do pato ser um dos poucos animais na qual eu tinha uma capacidade medíocre de desenhar. Lembro que quando a minha amiga Bela completou 22 eu pensei nos dois patinhos como uma conquista, um marco. Ainda bem que durante a festa tive vergonha e não comentei nada a respeito. Ô piadinha ridícula.
                Falta falar da minha colega de faculdade, a Márcia. Duas décadas e pouco de puro equilíbrio. Segura para escrever, demonstrava maturidade até na frente de uma platéia. Enquanto isso, eu que cheirava a danoninho, tentava focar tanta concentração pro preparo de algum drink.
                Alusões à parte, celebro minha versão 2.2 – mais veloz, menos econômica - tão clichê como a regra dos motores. Finalmente realizei o sonho dos patinhos próprios, e, pelo menos por hoje, pretendo esquecer que eles estão sem rumo.
                Hoje eu poderia procurar aquela senhora do segundo parágrafo, estapeá-la e dizer: Olha, tenho 22 anos e sou jornalista a tempo suficiente pra me frustrar. Porém, prefiro ficar aqui matutando sobre o dia em que serei como os planos de metas de Juscelino Kubitschek e viverei 50 anos em cinco.